James Watson Foi Um dos Fundadores do Projecto do Genoma Humano
A descoberta da estrutura da molécula de ADN esteve na origem do processo de sequenciação dos genes da humanidade
Os feitos de James Watson na biologia molecular acabaram por conduzi-lo até à
direcção do projecto do genoma humano - um consórcio internacional que arrancou oficialmente em Outubro de 1990, com a tarefa hercúlea de descobrir a sequência de todas as moléculas mais pequenas que compõem a grande molécula de ADN dos seres humanos. Dez anos depois, e já sem Watson à frente do projecto, foi anunciado, com grande impacto no mundo inteiro, que o primeiro rascunho do genoma humano estava concluído, com uma precisão de 90 por cento.
Mas muito antes de fundar o projecto do genoma humano, Watson distinguiu-se na
direcção, desde 1968, do Laboratório de Cold Spring Harbor, em Long Island (Nova Iorque). Sob a sua direcção, o laboratório tornou-se uma das instituições mais importantes na área da biologia molecular. Prova disso é receber por ano 4000 cientistas de todas as partes do mundo, que vão estudar no laboratório de um dos cientistas que desvendaram, em 1953, a estrutura da molécula de ADN.
Face a este currículo, em Maio de 1988, o director dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla inglesa), James Wyngaarden, convidou Watson para o lugar de director adjunto da unidade de investigação do genoma humano. Isto porque, em Outubro de 1989, a unidade dirigida por Watson recebeu o novo estatuto de Centro Nacional de Investigação do Genoma Humano.
E em Outubro de 1990 arrancou então o projecto do genoma humano, financiado por dinheiros públicos e com o trabalho a ser feito por universidades e grupos de
investigação governamentais dos EUA e de vários países, como o Reino Unido,
França, Alemanha e o Japão.
Mas já não seria Watson a dar a notícia ao mundo da quase conclusão dos trabalhos, em 2000 - mas o seu sucessor à frente do Centro Nacional de Investigação do Genoma Humano, Francis Collins. Watson demitiu-se abruptamente em Abril de 1992, dizendo que a sua posição era "insustentável". Os problemas começaram depois de, em Abril de 1991, o então Presidente dos EUA, George Bush, ter nomeado Bernadine Healy para dirigir os NIH. No início de 1992, a nova directora e Watson já estavam envolvidos em várias questiúnculas públicas, cada vez mais amargas. "Uma era sobre a carteira de acções de Watson de várias empresas farmacêuticas e de biotecnologia, o que poderia dar o aspecto de conflito de interesses, apesar de Watson declarar os seus interesses financeiros todos os anos", conta Kevin Davies no livro "The Sequence - Inside the Race for the Human Genome".
"Mas uma questão mais profunda e filosófica dizia respeito às patentes de genes",
continua Kevin Davies. "Healy apoiava fortemente uma decisão controversa dos NIH de procurar obter patentes para fragmentos de genes identificados por Craig Venter, cientista dos NIH, nem que fosse apenas para obter uma posição do Gabinete de Patentes sobre a legitimidade de patentear genes sem funções conhecidas. Watson criticava a investigação de Venter e estava amargamente zangado com a decisão de Healy em avançar com o pedido de patentes. Para piorar as coisas, Healy pediu a Venter para se dedicar ao futuro da investigação sobre o genoma humano nos NIH, enquanto dava ordens a Watson para não fazer mais críticas em público."
As guerras da sequenciação do genoma não acabaram por aqui: Craig Venter acabou por sair dos NIH e fundar, em 1998, a Celera Genomics, empresa que entrou na corrida da sequenciação dos genes humanos. Venter e Collins também não tiveram um relacionamento fácil. Mas desde logo Watson, que nasceu em Chicago em 1928, regressou ao Laboratório de Cold Spring Harbor. Irónico, disse no adeus à liderança do projecto do genoma: "Não conheço ninguém que possa suceder-me. Não conheço ninguém que não tenha acções, nem ninguém que queira trabalhar com a minha chefe."
A descoberta da estrutura da molécula de ADN esteve na origem do processo de sequenciação dos genes da humanidade
Os feitos de James Watson na biologia molecular acabaram por conduzi-lo até à
direcção do projecto do genoma humano - um consórcio internacional que arrancou oficialmente em Outubro de 1990, com a tarefa hercúlea de descobrir a sequência de todas as moléculas mais pequenas que compõem a grande molécula de ADN dos seres humanos. Dez anos depois, e já sem Watson à frente do projecto, foi anunciado, com grande impacto no mundo inteiro, que o primeiro rascunho do genoma humano estava concluído, com uma precisão de 90 por cento.
Mas muito antes de fundar o projecto do genoma humano, Watson distinguiu-se na
direcção, desde 1968, do Laboratório de Cold Spring Harbor, em Long Island (Nova Iorque). Sob a sua direcção, o laboratório tornou-se uma das instituições mais importantes na área da biologia molecular. Prova disso é receber por ano 4000 cientistas de todas as partes do mundo, que vão estudar no laboratório de um dos cientistas que desvendaram, em 1953, a estrutura da molécula de ADN.
Face a este currículo, em Maio de 1988, o director dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla inglesa), James Wyngaarden, convidou Watson para o lugar de director adjunto da unidade de investigação do genoma humano. Isto porque, em Outubro de 1989, a unidade dirigida por Watson recebeu o novo estatuto de Centro Nacional de Investigação do Genoma Humano.
E em Outubro de 1990 arrancou então o projecto do genoma humano, financiado por dinheiros públicos e com o trabalho a ser feito por universidades e grupos de
investigação governamentais dos EUA e de vários países, como o Reino Unido,
França, Alemanha e o Japão.
Mas já não seria Watson a dar a notícia ao mundo da quase conclusão dos trabalhos, em 2000 - mas o seu sucessor à frente do Centro Nacional de Investigação do Genoma Humano, Francis Collins. Watson demitiu-se abruptamente em Abril de 1992, dizendo que a sua posição era "insustentável". Os problemas começaram depois de, em Abril de 1991, o então Presidente dos EUA, George Bush, ter nomeado Bernadine Healy para dirigir os NIH. No início de 1992, a nova directora e Watson já estavam envolvidos em várias questiúnculas públicas, cada vez mais amargas. "Uma era sobre a carteira de acções de Watson de várias empresas farmacêuticas e de biotecnologia, o que poderia dar o aspecto de conflito de interesses, apesar de Watson declarar os seus interesses financeiros todos os anos", conta Kevin Davies no livro "The Sequence - Inside the Race for the Human Genome".
"Mas uma questão mais profunda e filosófica dizia respeito às patentes de genes",
continua Kevin Davies. "Healy apoiava fortemente uma decisão controversa dos NIH de procurar obter patentes para fragmentos de genes identificados por Craig Venter, cientista dos NIH, nem que fosse apenas para obter uma posição do Gabinete de Patentes sobre a legitimidade de patentear genes sem funções conhecidas. Watson criticava a investigação de Venter e estava amargamente zangado com a decisão de Healy em avançar com o pedido de patentes. Para piorar as coisas, Healy pediu a Venter para se dedicar ao futuro da investigação sobre o genoma humano nos NIH, enquanto dava ordens a Watson para não fazer mais críticas em público."
As guerras da sequenciação do genoma não acabaram por aqui: Craig Venter acabou por sair dos NIH e fundar, em 1998, a Celera Genomics, empresa que entrou na corrida da sequenciação dos genes humanos. Venter e Collins também não tiveram um relacionamento fácil. Mas desde logo Watson, que nasceu em Chicago em 1928, regressou ao Laboratório de Cold Spring Harbor. Irónico, disse no adeus à liderança do projecto do genoma: "Não conheço ninguém que possa suceder-me. Não conheço ninguém que não tenha acções, nem ninguém que queira trabalhar com a minha chefe."
(Por TERESA FIRMINO - Público, 26 de Fevereiro de 2003)
1 comentário:
Bom trabalho.
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